Os cabos submarinos, a espinha dorsal da economia global e das telecomunicações, estão operando em um cenário cada vez mais de risco e são propensos a ameaças de sabotagem e espionagem, seja por questões geopolíticas, físicas ou cibernéticas, aponta relatório da empresa de inteligência Recorded Future.
Os cabos submarinos de fibra óptica instalados no fundo do oceano são responsáveis por cerca de 99% de todo o tráfego e comunicações intercontinentais da internet, respondendo por cerca de US$ 10 trilhões em transações financeiras diárias e comunicações sensíveis de governos e militares, o que os tornam alvos atraentes para coleta de informações e sabotagem.
Segundo a Recorded Future, o número de cabos submarinos dobrou na última década, atingindo cerca de 530 sistemas de cabos em operação atualmente, e sua capacidade provavelmente aumentará para atender ao número crescente de usuários e dispositivos que exigem conectividade com a internet.
Quando se trata dos riscos a que esses cabos estão expostos, os ataques intencionais são os mais prejudiciais, se comparados com danos acidentais de âncoras de navios ou embarcações de pesca. “Em termos de sabotagem e espionagem intencionais, os grupos patrocinados por Estados-nação devem ser considerados a maior ameaça aos cabos submarinos, especialmente com um número crescente de empresas chinesas operando cabos e com a Rússia interessada em mapear o sistema de cabos submarinos, muito provavelmente para potencial sabotagem ou interrupção, aponta o relatório da Recorded Future.
“Grandes desenvolvimentos geopolíticos, especificamente a guerra da Rússia contra a Ucrânia, as crescentes ações coercitivas da China e os preparativos para uma potencial unificação forçada com Taiwan, bem como o aprofundamento da divisão entre Pequim e Washington, muito provavelmente serão os principais impulsionadores do ambiente de risco”, observa a Recorded Future.
Segundo a empresa, a principal ameaça da China é a capacidade de controlar os fluxos digitais, dado o seu papel mais destacado como proprietária/operadora da indústria, que lhe permite ditar a localização de novos cabos, “criando novos oportunidades de coleta de informações por meio das estações de pouso que ele controla”.
A Rússia, por outro lado, representa uma ameaça à segurança física dos cabos submarinos, especialmente os da região do Mar do Norte. Segundo a Recorded Future, cortar um cabo submarino causaria rompimentos e, se o dano for causado em águas profundas, o impacto seria maior, pois levaria mais tempo para ser reparado. “Os operadores de ameaças patrocinados por Estados-nação têm os recursos necessários para identificar e cortar um cabo em águas profundas.”
“Embora muito menos frequentes, danos intencionais ou sabotagem representam um vetor de ameaça único, já que o momento de um ataque e alvo pode afetar desproporcionalmente os países e empresas que dependem desse sistema de cabo”, aponta a Recorded Future.
Outra questão importante, observada pela empresa, é o papel crescente que hiperescaladores como Amazon, Google, Meta e Microsoft estão assumindo no desenvolvimento e propriedade da rede global de cabo, o que levanta preocupações sobre monopólios de mercado e soberania digital.
Localizadas em terra e projetadas para conectar o cabo submarino às redes terrestres, as estações terrestres também representam um alvo atraente para a coleta de informações, pois podem carecer de proteções de segurança reforçadas, são mais fáceis de acessar do que os cabos subaquáticos profundos e abrigam equipamentos de gerenciamento de rede e alimentações de energia, diz o relatório.
“É provável que apenas alguns poucos países sejam capazes de explorar cabos submarinos em águas profundas, onde suas atividades são menos prováveis de serem detectadas. As estações terrestres, portanto, apresentam uma opção mais facilmente acessível. [Eles] podem servir como pontos de coleta de inteligência por seus proprietários, em nome de seu país ou em benefício de um governo estrangeiro, por meio da inserção de equipamentos de monitoramento ou software backdoor”, observa a Recorded Future.
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O uso de sistemas remotos de gerenciamento de rede para monitoramento e controle da infraestrutura também pode representar um ponto fraco que adversários patrocinados pelo estado, grupos de ransomware e outros atores de ameaças provavelmente explorarão.
“Agentes estatais que buscam vantagem na espionagem quase certamente terão como alvo todo o ecossistema de cabos submarinos para coleta de inteligência: infraestrutura da estação terrestre, os próprios cabos submarinos, fornecedores terceirizados e o hardware e software que une tudo isso. Separadamente, a Rússia quase certamente aumentará seu mapeamento aberto e secreto de cabos submarinos e provavelmente se envolverá em sabotagem direcionada em terra e debaixo d’água”, afirma a Recorded Future.