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Reino Unido: houve invasão na rede do Foreign Office

O Foreign, Commonwealth and Development Office (FCDO), na verdade Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, foi hackeado em um grande incidente de segurança cibernética, o que forçou o órgão a contratar suporte adicional com “extrema urgência” de seu provedor de soluções e serviços de segurança cibernética, a BAE Systems Applied Intelligence. O departamento emprega 17.300 funcionários em escritórios diplomáticos e de desenvolvimento de negócios, incluindo 280 embaixadas e comissões no exterior.

A existência do “grave incidente de segurança cibernética” que afeta o Foreign, Commonwealth and Development Office (FCDO) só foi percebida porque estava descrita num documento público de contratação dos serviços. As informações do contrato, divulgadas pelo governo na sexta-feira 4 de fevereiro, mostram que o departamento foi forçado a pedir “apoio urgente” da empresa de segurança “para apoiar a remediação e investigação”.

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Não há indícios de que o incidente tenha sido divulgado por qualquer órgão do governo. Até o momento, não ha informações de que qualquer material classificado ou altamente sensível tenha sido acessado como parte do ataque cibernético.

De acordo com a página de informações do edital, o FCDO pagou à BAE Systems Applied Intelligence (subsidiária de segurança cibernética da empresa de defesa) £ 467.325,60 por sua assistência, após a emissão de um contrato para “analista de negócios e suporte de arquiteto técnico para analisar um incidente de segurança cibernética de autoridade” que foi encerrado em 12 de janeiro de 2022. O contrato foi adjudicado sem concorrência devido à “extrema urgência” da situação.

O edital informou que “a Autoridade foi alvo de um grave incidente de segurança cibernética, cujos detalhes não podem ser divulgados. Em resposta a este incidente, foi necessário apoio urgente para dar suporte à remediação e investigação. O Fornecedor Premiado é o integrador de gerenciamento de serviços incumbente de longo prazo da Autoridade e, como tal, tinha recursos no local com conhecimento e compreensão significativos da infraestrutura da Autoridade (…) “Devido à urgência e criticidade do trabalho, a Autoridade não conseguiu cumprir os prazos dos procedimentos abertos ou restritos ou dos procedimentos competitivos com negociação”.

O professor de Relações Internacionais Bernardo Wahl analisou o incidente com base nos fatos de seu comentário abaixo:

O primeiro-ministro Boris Johson atravessa uma crise interna, decorrente da realização de festa de aniversário em meio à restrição da pandemia, e busca uma distração externa para compensar a incerteza doméstica. Dessa forma, procura assumir um papel de liderança no impasse ocidental com a Rússia na crise em torno da Ucrânia.
O Brexit ocorreu há dois anos e a Inglaterra pretende diferenciar sua conduta externa de outros importantes países europeus: Alemanha e França. Enquanto Berlim adota uma postura discreta, pois depende do gás natural russo, e a França idealiza uma atitude de mediadora, como pode ser observada na visita do presidente Emmanuel Macron a Vladimir Putin, o Reino Unido tem uma posição mais dura frente ao Kremlin.
Em 22/01/2022, o serviço exterior britânico revelou informações confidenciais da inteligência britânica: um plano de Moscou para instalar um governo fantoche russo na Ucrânia havia sido desmascarado. O recado foi dado a Moscou. Existem diversas razões históricas e estratégicas para Londres empregar uma postura mais incisiva com a Rússia, sendo um exemplo recente o envenenamento de um ex-agente de inteligência russo (que tornou-se um operativo da inteligência britânica) e sua filha em Salisbury, na Inglaterra, em 2018, em uma operação que o Reino Unido atribuiu à inteligência militar russa (GRU).

Nesse sentido, o presente ataque cibernético ao serviço exterior britânico, caso tenha vindo da Rússia e/ou de um de seus “proxies”, pode ser entendido nesse contexto, uma forma da Rússia retribuir a “antipatia” britânica. Moscou estaria operando na “zona cinzenta”, uma região nebulosa entre a guerra e paz, através de operações cibernéticas, onde a negação plausível é possível e em que também pode enviar recados ao Reino Unido.

Se essa operação cibernética for interpretada como um ato de agressão, caso o agressor venha a ser identificado e se for a Rússia, será que a OTAN poderá invocar o artigo no. cinco?
Pois tal organização já considera a possibilidade de resposta militar a ataques cibernéticos.
A resposta pode vir de Raymond Aron, um pensador francês refletindo sobre a Guerra Fria (embora a situação atual não seja necessariamente uma nova Guerra Fria): “paz impossível, guerra improvável”.

Com agências de notícias internacionais