Uma tempestade perfeita envolvendo a digitalização das empresas, tensão geopolítica e crime organizado está ajudando a levar o crime financeiro e econômico a novos patamares, alerta um relatório da Europol.
Esta é a primeira avaliação de ameaças feita pela Agência da União Europeia para a Cooperação Policial, intitulada “A outra face da moeda: uma análise da criminalidade financeira e econômica na UE”. Ela lança luz sobre o sistema que, das sombras, sustenta as finanças dos criminosos em todo o mundo.
O relatório baseia-se numa combinação de conhecimentos operacionais e informações estratégicas fornecidas à Europol pelos Estados-membros da UE e pelos parceiros da agência. Ele analisa todos os crimes financeiros e econômicos que afetam a UE, como a corrupção, a fraude, a criminalidade contra a propriedade intelectual e a falsificação de mercadorias e moedas.
A Europol também culpou o como o branqueamento de capitais (processo pelo qual os criminosos encobrem a origem ilícita dos seus bens ou rendimentos) como um motor da criminalidade financeira e econômica, citando dados anteriores segundo os quais quase 70% das redes criminosas que operam na UE recorrem a uma ou outra forma de branqueamento de capitais para financiar atividades e ocultar ativos.
Os desenvolvimentos geopolíticos também desempenharam um papel importante, especificamente a invasão da Ucrânia pela Rússia, que ajudou a impulsionar uma crise de custo de vida que expôs membros mais vulneráveis da sociedade à exploração.
“Os crimes financeiros, em particular o branqueamento de capitais, minam a nossa sociedade não só por se infiltrarem na economia legal, mas também por promoverem o crescimento de uma sociedade paralela subterrânea, composta por indivíduos que dependem cada vez mais do crime organizado para o seu sustento e subsistência”, argumenta o relatório. “Demografia vulnerável, especialmente jovens vulneráveis que não têm confiança nas instituições sociais e no Estado de Direito, são o alvo perfeito para essa sociedade subterrânea paralela.”
O relatório observa ainda que a tecnologia desempenha um papel fundamental como facilitador desse tipo de crime, incluindo aplicativos de mensagens criptografadas, mercados da dark web, criptomoedas, modelos de cibercrime como serviço, ChatGPT para phishing e deepfakes. “Fintech legítimas, como IBANs virtuais, que ajudam a mascarar transações suspeitas, e financiamento buy now pay later (BNPL, sigla em inglês para compre agora e pague depois), que é propenso ao sequestro de contas, também podem oferecer uma vantagem à comunidade criminosa, afirma o relatório.
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Principais conclusões do relatório
- Quase 70% das redes criminosas que operam na UE recorrem a uma ou outra forma de branqueamento de capitais para financiar as suas actividades e ocultar os seus activos.
- Mais de 60% das redes criminosas que operam na UE utilizam métodos corruptivos para atingir os seus objetivos ilícitos.
- 80% das redes criminosas ativas na UE utilizam indevidamente estruturas comerciais legais para atividades criminosas.
- O panorama da criminalidade neste domínio é fragmentado, com os principais intervenientes frequentemente localizados fora da UE.
- As técnicas e ferramentas utilizadas pelos criminosos avançam rapidamente, pois se aproveitam dos desenvolvimentos tecnológicos e geopolíticos.