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100 s para meia-noite: estamos mais perto do Juízo Final?

Boletim dos Cientistas Atômicos diz que, apesar continuarmos a enfrentar as ameaças de guerra nuclear e crise climática, alertas estão sendo atenuados pelo aumento do uso da “guerra da informação cibernética”

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Todos os anos, cientistas do mundo todo, que participam do Boletim dos Cientistas Atômicos, um grupo sem fins lucrativos dedicado a monitorar o potencial de uma catástrofe global, atualizam o status do Relógio do Dia do Juízo Final, uma metáfora para mostrar quão perto a humanidade está de chegar a um fim catastrófico. Quanto mais perto da meia-noite o ponteiro dos minutos se mover, maior será a ameaça. E o ponteiro dos minutos de 2020 dá o aviso mais terrível até hoje.

O Boletim dos Cientistas Atômicos foi lançado em 1945 por cientistas da Universidade de Chicago envolvidos no desenvolvimento das primeiras armas atômicas do Projeto Manhattan. Dois anos depois, o grupo criou o Relógio do Dia do Juízo Final como um indicador do nível de ameaça à humanidade e ao mundo que habitamos.

Desde então, tornou-se um símbolo de nossa “vulnerabilidade à catástrofe por armas nucleares, mudanças climáticas e tecnologias disruptivas em outros domínios”, reconhecido em todo o mundo. Todos os anos, é tomada uma decisão sobre o que fazer com o ponteiro dos minutos do relógio na contagem regressiva — aproximá-lo de zero, deixá-lo onde está ou movê-lo para trás.

O ponteiro dos minutos do Relógio do Dia do Juízo Final começou aos sete minutos para a meia-noite de 1947. O desenvolvimento de armas nucleares avançou durante o restante dos anos 40 e início dos 50, mas a corrida armamentista mostrou sinais de desaceleração na década de 1960, resultando no retorno dos ponteiros para 12 minutos para meia-noite. Desde então, foi movendo-se para trás e chegou a 17 minutos para meia-noite no início dos anos 1990.

Porém, assim que ingressamos no século 21, a tendência anual se aproximava cada vez mais de uma catástrofe potencial. Em 2015, ao definir o ponteiro dos minutos para três minutos para a meia-noite, o Conselho de Ciência e Segurança do Boletim observou que “as mudanças climáticas não controladas, as modernizações globais de armas nucleares e os arsenais de armas nucleares grandes representam ameaças extraordinárias e inegáveis ​​à continuidade da existência da humanidade e os líderes mundiais falharam em agir na velocidade ou escala necessárias para proteger os cidadãos de uma catástrofe em potencial. Essas falhas de liderança política colocam em risco todas as pessoas na Terra”.

Um apelo ao povo para agir se os políticos não agirem foi feito em 2017, pois o Boletim declarou que faltavam dois minutos e meio para a meia-noite. Os líderes mundiais foram novamente repreendidos por falta de ação em 2018 e novamente no ano passado, embora não houvesse movimento no ponteiro dos minutos. Agora, 75 anos após a primeira edição do Boletim dos Cientistas Atômicos, o Relógio do Dia do Juízo Final está mais perto da meia-noite do que nunca, permanecendo 100 segundos antes do bong sinalizar o fim.

A declaração deste ano observa que continuamos a enfrentar ameaças simultâneas de guerra nuclear e crise climática, mas também reconhece que os alertas estão sendo atenuados pelo aumento do uso da “guerra da informação cibernética”.

Embora a conscientização sobre a crise climática tenha aumentado em 2019, auxiliada por manifestações de jovens em todo o mundo, faltam ações dos líderes mundiais, com os EUA se retirando do Acordo de Paris de 2015. No entanto, a última década mostrou-se a mais quente desde o início dos registros na década de 1880, incêndios florestais ocorreram na Amazônia, Austrália, Sibéria, Indonésia e Califórnia, e as geleiras estão derretendo a um ritmo alarmante.

Os cientistas também chamam a atenção para o fim — ou enfraquecimento — de vários tratados e negociações de controle de armas durante 2019, “criando um ambiente propício a uma corrida armamentista nuclear renovada, à proliferação de armas nucleares e à redução de barreiras à guerra nuclear”. “Essa situação [duas grandes ameaças à civilização humana, amplificadas por propaganda sofisticada e impulsionada pela tecnologia] não seria preocupante o suficiente se líderes de todo o mundo se concentrassem em gerenciar o perigo e reduzir o risco de catástrofe”, diz o Boletim.

“Em vez disso, nos últimos dois anos, vimos líderes influentes denegrirem e descartarem os métodos mais eficazes para lidar com ameaças complexas — acordos internacionais com fortes regimes de verificação — em favor de seus próprios interesses e ganho político interno. Ao minar a ciência cooperativa, e com abordagens baseadas na lei para gerenciar as ameaças mais urgentes à humanidade, esses líderes ajudaram a criar uma situação que, se não for tratada, levará à catástrofe, mais cedo ou mais tarde”, diz o documento.